terça-feira, 6 de outubro de 2020

A poesia segundo Severino Arouche

 Litania do velho

 

O velho caminha pelas ruas de calçamentos irregulares e sem nenhuma noção de estética do seu bairro. Com seu olhar mortiço ele segue em frente. 

No seu caminhar incerto e como pêndulo, o idoso caminha conduzindo sonhos, frustrações, desassossego, decepções, medo, tédio, náusea, dissabores, abandono, isolamento, a ausência de tesão, a permanente sensação de finitude, uma certa urgência em realizar o que ainda lhe é permitido fazer.

Sonhar é o que ainda resta ao idoso. Muitos se negam a sonhar por inútil o sonho de quem tem pouco tempo para realizar. Outros se apegam ao sonho como um náufrago em mar aberto que insiste em se manter na superfície, numa boia com prazo de validade vencido.

Nenhum comentário: