quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

A poesia segundo Teófilo Dias

 

Os seios

 

Como serpente arquejante
Se enrosca em férvida areia,
Meu ávido olhar se enleia
No teu colo deslumbrante.

Quando o descobres, no ar
Morno calor se dissolve
Do aroma, em que ele se envolve,
Como em neblina o luar.

Se ao corpo te enrosco os braços,
A terra e os céus estremecem,
E os mundos febris parecem
Derreter-se nos espaços!

E tu nem sequer presumes
Que então, querida, até creio,
Sorver, desfeito em perfumes,
Todo o sangue do teu seio.

Depois que aspiro, ansiado,
Do teu níveo colo o incenso,
Minh'alma semelha um lenço
De viva essência molhado.

Deixa que a louca se deite
Nesse torpor, que extasia,
E que o vinho do deleite
Me espume na fantasia;

Pois não há ópio ou haschis (l)
Que me abrilhante as ideias
Como as fragrâncias sutis
Que fervem nas tuas veias!

 

Teófilo Odorico Dias de Mesquita (Caxias, 8 de novembro de 1854 — São Paulo, 29 de março de 1889) foi um advogado, jornalista e poeta brasileiro, sobrinho de Gonçalves Dias e Patrono na Academia Brasileira de Letras.

Filho do advogado Odorico Antônio de Mesquita, e da irmã do poeta Gonçalves Dias, D. Joana Angélica Dias de Mesquita. Sua formação inicial deu-se de 1861 a 74, em São Luís, capital do estado, no Instituto de Humanidades.

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