quinta-feira, 29 de abril de 2021

A poesia segundo Manoel Sobrinho

 

São Francisco do Maranhão

 

Ó triste e pobretã cidade maranhense!

Por que a eterna canção romântica das águas

Do velho Parnaíba onduloso não vence

Teu descontentamento e tuas fundas mágoas?

 

Por que já não te enfeita a pompa que outrora

Ostentavas riqueza, orgulho e poderio?

Não vês que ao pé de ti o arvoredo se enfiara

Ao beijo das manhãs translúcidas do estio?

 

Por que sofres assim? Por que definhas tanto?

Por que te pesa a cruz de tal adversidade?

Olha: a árvore remoça em teu subúrbio, e o canto

Das aves do teu céu traduz felicidade...

 

Por que tua cerviz dobras e não encaras

O céu, que nos dá força, em nosso desalento?

Vês? O Morro da Cruz e o Morro das Araras

Erguem a fronte larga à luz do firmamento...

 

Por que, perdendo a forma estética, te afeias,

Contrastando com tudo aí desse recanto,

Quando eu - que sou teu filho - eu sei que te rodeias

De infindáveis painéis do mais soberbo encanto?

 

Por que fazes, agora, humilde, curvaturas

A tudo o que enfrentaste, outrora, com denodo?

É que, nas asas do ouro, ontem galgaste alturas,

E hoje, rastejas, pobre e anônima, no lodo.  

 

Manoel Alexandrino de Santana Sobrinho. Nasceu em S. Francisco do Maranhão, a 4-1-1897 e faleceu em S. Luís, a 22-11-1957. — Hora Iluminada, 1948, Pétalas e Farpas, inédito e, também inédito, o poema “Oiteiro da Cruz”, sobre a expulsão dos holandeses no Maranhão. Mestre os versos alexandrinos. Manuel Alexandre de Santana Sobrinho, poeta, era funcionário público, membro da Academia Maranhense de Letras. Manuel Alexandre de Santana Sobrinho, poeta, funcionário público.

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