São Francisco do Maranhão
Ó triste e pobretã cidade maranhense!
Por que a eterna canção romântica das águas
Do velho Parnaíba onduloso não vence
Teu descontentamento e tuas fundas mágoas?
Por que já não te enfeita a pompa que outrora
Ostentavas riqueza, orgulho e poderio?
Não vês que ao pé de ti o arvoredo se enfiara
Ao beijo das manhãs translúcidas do estio?
Por que sofres assim? Por que definhas tanto?
Por que te pesa a cruz de tal adversidade?
Olha: a árvore remoça em teu subúrbio, e o canto
Das aves do teu céu traduz felicidade...
Por que tua cerviz dobras e não encaras
O céu, que nos dá força, em nosso desalento?
Vês? O Morro da Cruz e o Morro das Araras
Erguem a fronte larga à luz do firmamento...
Por que, perdendo a forma estética, te afeias,
Contrastando com tudo aí desse recanto,
Quando eu - que sou teu filho - eu sei que te rodeias
De infindáveis painéis do mais soberbo encanto?
Por que fazes, agora, humilde, curvaturas
A tudo o que enfrentaste, outrora, com denodo?
É que, nas asas do ouro, ontem galgaste alturas,
E hoje, rastejas, pobre e anônima, no lodo.
Manoel Alexandrino de Santana Sobrinho. Nasceu em S. Francisco do Maranhão, a 4-1-1897 e faleceu em S. Luís, a 22-11-1957. — Hora Iluminada, 1948, Pétalas e Farpas, inédito e, também inédito, o poema “Oiteiro da Cruz”, sobre a expulsão dos holandeses no Maranhão. Mestre os versos alexandrinos. Manuel Alexandre de Santana Sobrinho, poeta, era funcionário público, membro da Academia Maranhense de Letras. Manuel Alexandre de Santana Sobrinho, poeta, funcionário público.
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