terça-feira, 1 de junho de 2021

A poesia segundo Xavier de Carvalho

 

O SINO DE SÃO PANTALEÃO

 

Em minha terra, o sino mais sentido,

o mais triste de todo o Maranhão,

é o grande sino, há muito erguido

da velha e secular São Pantaleão...

 

Todo enterro ali passa... E ele dorido,

vendo-os passar, soluça na amplidão...

E é tão forte e é tão fundo o seu gemido

que a todos espedaça o coração!

 

Eu avalio a mágoa desse dobre,

quando meu velho Pai, vida tão nobre,

diante da Igreja, em seu caixão passou...

 

O sino gemeu tanto, nesse dia,

que, eu de tão longe, ouvi, na alma vazia,

os dolorosos ais que ele dobrou!

 

EU!

 

(Aos que me não compreendem)

 

Vamos, pobre infeliz! Muda em asas teus braços!

Desfere o vôo teu, no anseio profundo,

Para o local que houver mais alto nos espaços,

Para o trecho do céu mais distante do mundo!

 

E uma vez lá chegando, errante e vagabundo,

Desta vida cruel liberta-te dos laços

E atira-te, a cantar, do precipício ao fundo...

Quero ver-te cair dividido em pedaços!

 

Morre como um herói! Deixa que o Meio brama!

Fecha o ouvido ao Elogio e os olhos fecha à Fama

E despreza da Inveja as pérfidas alfombras...

 

E morre, coração! Pois, ao morrer, enquanto

Tens Injustiças de uns, tens bênçãos de outro tanto...

– Morrerás como o Sol – entre Luzes e Sombras!

 

Poeta, Inácio Xavier de Carvalho nasceu em São Luís no dia 26 de agosto de 1871. Integrou, juntamente com Antonio Lobo e Fran Paxeco, entre outros, a Oficina dos Novos, movimento de renovação literária empreendido por um grupo de escritores maranhenses no início do século XX.

Não há registros confiáveis sobre sua juventude. Com certeza, sabe-se apenas que estudou Direito em Recife, de onde retornou para o Maranhão. Aqui, exerceu cargos como o de promotor público, juiz municipal e professor de literatura no Liceu Maranhense. Colaborador assíduo dos jornais de sua época, deixou escritos dispersos no Pará, Amazonas e Maranhão, tendo publicado pouca coisa em livro.

Em 1893, com a idade de 23 anos, lançou sua primeira obra, intitulada Frutos Selvagens. O meio literário de São Luís vivia então um momento marcado pela mudança e pela ruptura. As forças da renovação artística, representadas principalmente por Antonio Lobo, insurgiam-se contra a herança da poesia fácil dos cultores do romantismo, movimento que ainda permanecia em voga entre os poetas locais.

A estréia de I. Xavier de Carvalho em livro contribuiu para inaugurar uma nova fase na literatura maranhense, embora tenha ele próprio causado certa reação entre os renovadores da Oficina dos Novos por conta de sua inclinação para o simbolismo, visto por alguns destes como uma escola decadente e estéril.

Cultor do soneto e detentor de grande domínio técnico, I. Xavier de Carvalho foi um poeta suave, impregnado pelo verso simbolista, contido, mas também parnasiano em muitas passagens, o que certamente contribuiu para dar corpo ao equívoco crítico de considerá-lo um romântico tardio. Na verdade, ele foi, antes de tudo, um artista perfeitamente integrado à corrente poética de seu tempo, marcada pela difícil convivência entre o parnasianismo e o simbolismo.

Político por vocação e gosto, I. Xavier de Carvalho viajou por Minas Gerais, Amazonas e Pará no exercício da magistratura, cedo perdendo contato com o Maranhão, para onde jamais regressou. Embora tenha permanecido bastante ativo, publicando periodicamente em jornais, consta que sua última obra, Parábolas e Parabolas, data de 1919.

Morreu no Rio de Janeiro em 17 de maio de 1944. 

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