quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Bispo do Xingu defende "desmatamento ZERO" da amazônia

Erwin Kräutler: "Nesse ritmo, em 30 anos a Amazônia não existirá mais"

Quando indagado sobre a sua nacionalidade, o bispo Erwin Kräutler, 69, da Prelazia do Xingu (PA), costuma responder que é um brasileiro nascido na Áustria.

Kräutler é um dos três bispos da região ameaçados de morte por terem denunciado casos de tráfico de seres humanos, exploração sexual de crianças e adolescentes e pedofilia.

O bispo preside o Conselho Indigenista Missionário e está sob proteção policial. Seis policiais se revezam em dois turnos por determinação da Secretaria de Segurança.

Na tenda Irmã Dorothy, do Fórum Social Mundial, em Belém, Kräutler participou de um seminário sobre a igreja e seus mártires na defesa dos direitos humanos na Amazônia.

O “brasileiro que nasceu na Áustria” estava empenhado em animar religiosos católicos a persistirem na luta em defesa dos direitos humanos e da preservação da Amazônia.

Leia entrevista a seguir:

Qual a situação da Amazônia hoje?
O que vejo agora na Amazônia é um descalabro. Existem áreas que conheci como selva, como mata virgem, que hoje se encontram devastadas. Existem municípios cuja vegetação original está reduzida a apenas 10%, outros em situação melhor porque possuem áreas indígenas. Por isso digo que a demarcação de áreas indígenas, parques naturais e reservas extrativistas são um passo importante para salvar a Amazônia.

O que precisa ser feito?
Nós somos os responsáveis pela a agressão e destruição que está em curso. Não existe meio termo, não temos que dizer apenas que vamos tentar diminuir a devastação. Isso não. Nós temos que dar um basta. Nós temos que encontrar outros meios de desenvolvimento, mas que sejam compatíveis com a Amazônia. Temos que manifestar mais uma vez a todo o mundo que a mata em pé tem mais valor que a mata derrubada.

O governo Lula contribuiu…
Tem que haver desmatamento zero. Eu não vou dizer que o governo Lula contribuiu ou deixou de contribuir. Deram passos importantes, mas tem que ser muito mais incisivo para conseguir evitar o desastre. Não entro nesse discurso de governo anterior e governo de agora. Isso é falácia e não quero correr o perigo de ser leviano. O que posso dizer é que se continuarmos nesse ritmo, em 30 anos a Amazônia não existirá mais. Todos os governos municipais, estaduais e federal têm que se dar conta da seriedade da situação que a Amazônia se encontra. O Fórum Social é o momento da sensibilização e conscientização para todo o povo.

O senhor é vítima de ameaças de morte. A violência recrudesce na região?
Eu não vou falar mais sobre isso. Estou sob proteção.

O senhor agora se sente protegido?
Isso é pergunta que se faça?

Incomoda estar sob proteção policial?
Não estou falando dos homens que me acompanham, que são muito servis e discretos. Não tenho nenhuma reclamação. Mas não tenho mais nenhum espaço de liberdade. Não tenho nada a esconder, nada mesmo. Porém, ser acompanhado 24 horas, onde quer que esteja, cerceia a liberdade de qualquer pessoa e cria algo interiormente que não se pode simplesmente colocar de lado.

Como o senhor avalia o papel da Justiça?
A morosidade dos processos passa pela continuação dos crimes hediondos. A morosidade vira impunidade. Quando se chega a concluir um processo e a condenação é proferida, então surgem mil e uma possibilidades ou portas para a saída dos condenados. Tanto é que os verdadeiros criminosos e seus mandantes não estão presos.

Tem havido recuo do movimento social?
Não. A luta social continua. O que querem é que a gente recue. Caso haja recuo, perdem o Brasil e o mundo. O planeta perde. Chegam a nos demonizar e nos agridem de maneira caluniosa, mas isso tem como objetivo nos tirar o fôlego. A imprensa é importante para veicular todas as causas que defendemos. Queremos que a imprensa publique não apenas coisas sensacionalistas, mas dê informações de fundo. Tenho sido vítima de uma imprensa de terceira ou quarta categoria, em Santarém. (blog da Amazônia)

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