terça-feira, 27 de janeiro de 2009

John Updike morre aos 76 anos

Morreu hoje aos 76 anos o romancista John Updike, um dos últimos remanescentes de uma geração de titãs literários norte-americanos, que ajudou a descortinar o brutal outro lado do grande sonho americano e flagrou em primeira mão uma revolução comportamental em andamento na América. De acordo com o editor Alfred Knopf, que divulgou a informação, Updike morreu de câncer de pulmão.

Updike, nascido em 1932 em Reading, na Pensilvânia, e morador de Beverly Farms, em Massachussets, já havia recebido o prêmio Pulitzer e era conhecido por ser, em seus romances, um cronista erudito de seu tempo, na grande tradição do realismo romanesco europeu. Pelas suas páginas passaram as mudanças que os Estados Unidos sofreram no campo do sexo, as transformações numa sociedade em que o divórcio se tornou comum, as dúvidas de toda uma geração frente à sexualidade livre e à busca quase obrigatória de prazer.

O autor escreveu romances, contos, poesia e foi um grande crítico literário, em uma carreira que, iniciada nos anos 1950, se encerra com mais de 50 livros publicados. Sua obra mais conhecida e aclamada foi o ciclo de quatro romances conhecido como A Tetralogia do Coelho, — eleito em 2006 por um grupo de notáveis convocados pelo The New York Times como o terceiro entre os melhores romances escritos nos 25 anos anteriores.

Composta ao longo de 30 anos em uma prosa ao mesmo tempo elegante e plena de ironia, a Tetralogia do Coelho é uma devastadora saga da mediocridade classe-média americana, por meio do retrato de Harry Angstrom, o Coelho, personagem que vai de astro de basquete a vendedor de carros japoneses, endinheirado, separado e sem diálogo com os filhos. Aqui no Brasil os romances que compõem a tetralogia têm os nomes de Coelho Corre (1960), Coelho em Crise (1971), Coelho Cresce (1981) e Coelho Cai (1990). Pelos dois últimos Updike recebeu duas vezes o Pulitzer.

Updike escreveu até mesmo um romance sobre o Brasil, na verdade uma releitura no Rio de Janeiro contemporâneo da clássica trama de Tristão e Isolda, publicado também aqui com o título de... Brazil — para os fãs do autor, como eu, o romance carregava um quê de decepção. A escrita elegante e com completo domínio narrativo de Updike estava lá, como sempre esteve, mas ficava claro que o olhar agudo do autor, tão pródigo em desnudar a sociedade de seu país, não tinha o mesmo poder percuciente quando aplicado ao nosso, e transformou o Rio naquela coisa meio de sempre: praia, sexualidade, vôlei de areia e por aí vai. O último romance de Updike a chegar ao Brasil foi Cidadezinhas, publicado em dezembro de 2008.

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