Exercício
Tuas mãos desenham
uma estranha geometria
curvas que se encontram retas
em direção a um equacionado desejo
Tato
Corpo
cor
de
pó
rosado
rosa
em
mim
plantado
Em trânsito
Pessoas passam na chuva
Temo pela gota d’água parada
na calçada
Misericórdia
Já não posso dizer
te amo
floresce em minha boca
um punhal
Cimitarra
A lua afiada
decepa
a noite
Estamos órfãos
Memória do Tempo
Brevíssimo verão
frágil e fugaz
perpassa o coração trêmulo e assustado
O outono é a certeza (p.41)
Quiromancia
A mão do poema
é a que me cabe
inteira
A outra
eu a carrego,
pesada e alheia
Noturno
Tudo é tão simples
que poderia ser pedra
Ratoeira
Tremo em pensar
que a saída
vai dar em tua boca
OFERENDA
Venho te oferecer meu coração
como o cansaço se oferece aos amantes
o suor aos corpos exaustos
depois de definitivo abraço
Venho te oferecer meu coração
como a lua se oferece à noite
e o vento à tempestade
Venho te oferecer meu coração
como o peixe se oferece à captura
no engano do anzol
TORRES DA SÉ
Garças altivas beliscam
o céu
sangram estrelas
que se desfazem em luz
noites azuis
de maré alta
orquestram hinos e preces
minha cidade faz
o sinal da cruz
adormece
Laura Amélia Damous - nasceu em Turiaçú, no Maranhão, em 1945 mas seu primeiro livro só é publicado em 1985 – Brevíssima canção do amor constante.
“Obra pequena, mas significativa como ser poético, ela não se parece com nenhum de seus contemporâneos maranhenses, linguagem sintética de um cancioneiro peculiar, ao gosto dos ideogramas japoneses. No Brasil, a sua referência maior seria a Cecília Meireles das Canções, a mesma espontaneidade e rigor ao construir os poemas.” ASSIS BRASIL
Nenhum comentário:
Postar um comentário