quarta-feira, 29 de junho de 2011

Ex-embaixador chama Câmara Legislativa de "refúgio de canalhas"

Um telegrama redigido em 2004 pelo então embaixador norte-americano no Brasil, John Danilovich, revela o olhar da diplomacia dos Estados Unidos sobre a Câmara Legislativa do Distrito Federal: “um refúgio para canalhas”. Parte dos milhares de documentos secretos obtidos pela organização WikiLeaks, a mensagem intitulada “Um trapaceiro a menos na galeria” descreve a crise provocada pela denúncia de assassinato envolvendo Carlos Xavier, cassado naquele ano em votação apertada no plenário da Casa. Ao analisar o cenário político na capital brasileira, Danilovich avalia que a punição a Xavier despertou “nervosismo” em políticos do Distrito Federal. A avaliação é de que muitos encrencados teriam receio de criar um precedente para acusações de crimes e terem o mesmo desfecho do colega.

Enviado ao governo americano, o comunicado é recheado de críticas à atuação da Câmara Legislativa. Para o diplomata, a Casa abriga “meia dúzia de deputados suspeitos de vários crimes” entre 24 integrantes. E analisa a cassação de Xavier com 13 votos, quórum mínimo para a punição: “Toda a questão deixa em dúvida se este é um golpe contra a impunidade, um pequeno passo na direção certa, ou apenas serve para desenhar uma linha: a de que os assassinos, pelo menos, não serão tolerados na Câmara Legislativa”. O telegrama sigiloso foi divulgado ontem pelo site Pública, que iniciou nesta semana uma parceria com o editor do WikiLeaks, Julian Assange, para publicação de documentos de embaixadas americanas relacionados ao Brasil.

Terra no céu

O diplomata detalha também a suposta participação do ex-deputado Júnior Brunelli — que renunciou ao mandato no ano passado depois de ter sido filmado protagonizando a oração da propina e recebendo dinheiro das mãos de Durval Barbosa. Sobre Brunelli, o embaixador descreve, entre outras coisas, o suposto envolvimento dele em promessas de “venda de pedaços de terra no céu”, como forma de ludibriar fiéis. O ex-deputado Pedro Passos é citado pela diplomacia norte-americana como o “maior predador de terras” do Distrito Federal, de acordo com o que havia apontado a CPI da Grilagem ocorrida na Câmara Legislativa em 1995.

O embaixador americano afirmou que os eleitores de Brasília têm memória curta. Por isso, José Roberto Arruda teria sido o deputado federal com maior votação da história do DF mesmo depois de ter renunciado ao mandato de senador um ano antes da eleição, em 2002.

Além dos casos de corrupção, Danilovich destaca a baixa qualidade dos trabalhos na Câmara Legislativa. Cita grande quantidade de leis inconstitucionais e fala de forma irônica sobre debates que despertaram a atenção de distritais durante meses, como a criação de banheiros para homossexuais e a implantação de uma lagoa de pesca para desempregados buscarem o jantar. Também detalha o debate sobre o animal símbolo da capital. Ele afirma que o lobo-guará foi escolhido depois que o pirá-brasília foi descartado em virtude da descoberta de que a espécie seria hermafrodita. ( Correio Brasiliense)

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