segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A poesia segundo Fernando Abreu II


ANTROPÓLOGICO

Índio e poeta
só presta morto


O EXORCISTA INFORMAL

mil vezes maldito
no meu milagre
eu mesmo acredito


MISHIMA

poeta samurai
fez hara-kiri
em vez de hai-kai


DIET JUNK FOOD

não tenho ofício
poema pra mim
é vício


POETA INDO E VOLTANDO

Por essas ruas inclinadas
ando de cabeça erguida
quem não quiser olhar
minha cara
esconda as feras
Sou poeta
e sei o que me espera


POETA CEREBRAL EM CRISE

Quando um poema o toca
sente frio
já tirou leite das pedras
como ordenhar o vazio?


O QUE POUND DISSE A
ZÉ LIMEIRA NO PURGATÓRIO


- Arre égua!
Teu Paideuma
é paidégua.


JEAN GENET NA FRANÇA EQUINOCIAL

Em seu exílio imaginário
na França Equinocial,
o poeta Jean Genet
se manteve à margem
das homenagens oficiais.
Recusou discretamente
o chá da Academia,
convite para ministrar Aula Inaugural
da UFMA
e almoço com o Chefe do Executivo
Mas tornou-se habitué
de longas caminhadas noturnas
pela devastada Praia Grande,
onde era visto com frequência
acompanhado pelo fantasma do Erasmo
Dias


ÂNIMA & GASOLINA

raiva
paixão
ou rima
chamo de amor
a tudo que me anima


OCEANO VIRTUAL

ela pensava que eu olhava
os olhos dela
mas eu olhava era o mar
afogado
nos olhos dela


PERSONA I

imitar tanto
até parecer
consigo mesmo


POMPÉIA NUNCA MAIS

se eu soubesse
de mais esse dilúvio
não tinha escapado
do Vesúvio


ARQUÍLOCO NA RIBALTA

poucas artes domino
a maior delas:
- tornar-me invisível
diga onde estou agora,
você,
que é tão sensível?

Fernando Abreu – é maranhense de Grajaú. Jornalista, estudou piano clássico e fez a sua estréia na literatura com Relatos do Escambau.

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