quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A poesia segundo Luis Augusto Cassas


Leilão de Poeta

Quem dá um dólar furado
por um poeta bastardo
sem quatro costados?

Quem ou ninguém se habilita
a adotar um salafrário
do amor estelionatário?

Quem doa perdoa e arremata
esse fino exemplar da raça
aristocrata vira-lata?

Qual tempo e avaliação
desse bardo a bordo:
vagabundo a estibordo?

Quantos reais ou ideais
valem as prendas estéticas
das veleidades domésticas?

Quem comprará a camisa
suja de batom e de brisa
desse príncipe de uma figa?

Vale o que diz cheira e pesa?
Vale o poema que reprisa?
Qual o preço sem barriga?

Quem dará o preço mínimo
pela carcaça do farsante
que de lábia é o mais fino?

Quem fincará uma estaca
no coração desse poeta
que de fúrias o amor exalta

e mesmo em extrema-unção
torpedeia a imaginação
de uma distante mulata?

Quem doa amor de ouro ou prata
àquele que à dor o coração ata
e de amor morre mas não mata?
 
Luis Augusto Cassas – é poeta maranhense

“Certa vez, quando iniciava minhas leituras sobre poesia maranhense, disseram-me alguns que Luís Augusto Cassas era um excelente poeta. Um universal, com versos que estavam além do Estreito dos Mosquitos. Eu não acreditei, como de costume, pois nego todas as sentenças pomposas na maioria das vezes apenas pelo prazer de ser um iconoclasta ríspido e mal humorado. Porém fiquei em silêncio até ler os primeiros poemas do livro “Ópera Barroca”.
Algumas coisas eram engraçadas, as construções mostravam algum esmero, mas não me encantaram nenhum pouco. Na verdade, o que li foi uma poesia pretensiosa apenas. E não sei se Cassas conseguiria escrever sem ser pretensioso. Ora, assumir-se poeta – depois dos grandes e clássicos, já diria Marcelo Flecha – pode ser considerado um grande ultraje talvez.
O que lembro foi que depois de ler dei o livro a um amigo menos preconceituoso e menos chato. Passei a obra guardando o respeito pelo ofício e pela audácia de Cassas em se assumir poeta, mas com a sensação de vazio guardada em muito de seus versos. Foi uma descoberta, foi uma leitura métrica e livre, da forma e na forma acabada. Às vezes, parecia uma brincadeira, um joguete.
Depois de alguns meses com o último livro de Luís Augusto Cassas nas mãos – “O Filho Pródigo: Um Poema de Luz e Sombra”, lançado pela Imago Editora, resolvi ler. E de uma porrada só li alguns dos versos mais bonitos e violentos que meus olhos já me apresentaram. Não é simplesmente para elogiar.
Não falo isso porque é uma tragédia na qual Cassas vai buscar em toda a literatura mundial narrativas em referências a relação pai e filho unicamente para explicar sua experiência individual com o seu pai. Esse labor seria a explicação para justificar a grandeza de qualquer poeta. Nem quero escrever que me foi confirmado a excelência de sua obra, seria barbarismo e nem crítico literário sou.
Apenas digo e repito. Li alguns dos versos mais verdadeiros que meus olhos já me apresentaram e, por mais difícil que tenha sido para o autor ter escrito e por mais claudicante seja a leitura de um texto em que se emoldura uma genealogia dos choques entre um genitor e sua a cria, para qualquer filho há uma identificação imediata. Cassas responde aos conflitos com seu pai de uma forma retumbante. Mas isso não interessa muito eu acho.
Se alguém quiser perder uma hora do seu dia para ler o livro, mais do que recomendo. Leia e releia. Será uma boa experiência. De A a Z, são criados versos interessantes. Às vezes, melindrosos, aviso.
Os dois primeiros poemas são de crueza e sensibilidade, marcadas por reconhecimento, ressentimento e culpa. Além do respeito pela coragem, com os versos seguintes, Cassas ganhou a minha admiração. São palavras com vida”. (Diário do André)



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