quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A poesia segundo Sousândrade


Novo Éden

Já era sol: cansados do caminho
D`espelho que se parte o relampagueamento
D`estampido seguido e que cegueira faz
Que d`alma a dor profunda apaga no momento,
Viram... um lago! Ao longe... um monte!... nada mais.

Já era pôr do sol: cansados do caminho,
Eva corando, o abrolho, o cardo, a urtiga, o espinho,
Rastos de pés sangrando: unidos se deitaram
Sem mais o encanto edêneo... Amar?os céus olharam:
Os astros sem fulgor, suas frontes em suor;
Travesseiro? Uma pedra. E os astros sempre rindo!...
Foi quando Prometeus não pôde mais; e trouxe
Dos céus centelha: e ao fogo o homem que aquentou-se;
Toda tristeza ante ele, os olhos reluzindo

Meiga, mortal, calada: ao colo da mulher,
No Éden do amor, o lar cosmopolita, achou-se
Imagem de deus uno, à carne rosicler;
Forma flor, forma céus, para-olhos e para-almas,
Da criação o amor em gêmeos, dois amores,
Corpos vibrantes dois, duas psíquicas palmas
Os corações em luz, carnariums, sangues, dores
E o ideal Prometeus, a ideal imagem-Deus.

                                                Egressos
Do Éden, foi, travesseiro a pedra e o leito
Entre abrolhos e espinhos, que os esposos
Casaram consolando-se: que apenas
Adolescência, uberdade, sonhos,
Ainda nas mãos de Deus se perfazendo

-Joaquim de Sousa Andrade (Sousândrade) - é um poeta maranhense. Foi o poeta brasileiro mais original do século XIX e precursor do modernismo, juntamente o francês Charles Baudelaire e o norte-americano Edgar Alan Poe. Sousândrade defendia na sua poesia uma nova civilização americana,independente política e culturalmente.  

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