Globo
Não podia ser mais digna de um regime autoritário a falta de transparência com que o chavismo lida com a doença do chefe máximo, internado em Cuba para a quarta cirurgia devido a um câncer.
Impressionam as fórmulas mirabolantes que os mais próximos a Hugo Chávez apresentam para contornar o “estorvo” de a Constituição da Venezuela determinar para o dia 10, quinta-feira, a posse para um terceiro mandato de seis anos, diante da Assembleia Nacional (Congresso).
Segundo a Carta, se o eleito não puder se apresentar ao Congresso na data indicada, deverá fazê-lo diante do Supremo Tribunal de Justiça, sem especificar data ou local. É nisto que se baseia o politburo chavista para alegar que a posse pode ser feita “no futuro”, diante do órgão máximo do Judiciário.
O agravamento da doença de Chávez explodiu no colo do pequeno grupo que ocupa os postos-chave em torno do comandante. É o que acontece com todos os modelos políticos construídos ao redor do culto à personalidade e à concentração de poder em torno do chefe único, onisciente e onipotente.
É da própria natureza desses regimes a tentação de não obedecer a regras de troca de comando, na vã suposição da “imortalidade” de seu líder.
O máximo que conseguem é adiar o desfecho, ganhando tempo para negociar internamente a sucessão, ou para que a luta intestina aponte um vencedor. Enquanto isto, o líder agonizante é mantido vivo à custa de aparelhos, ou a notícia de sua morte é adiada tanto quanto possível.
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