terça-feira, 1 de abril de 2014

Quem tem medo do Sabiá?

por Rogério Newton

Quando nasceu o movimento em defesa do Morro da Cruz, em agosto de 2012, o assunto ganhou foros de discussão pública: artigos, postagens nas redes sociais, exposição de fotografias, reuniões de ativistas, petição ao Ministério Público, abaixo-assinado ao prefeito...

Faltavam apenas dois meses para as eleições. A campanha dos partidos fervia ruidosamente. Mas nos discursos dos candidatos não havia nenhuma palavra sobre o Morro da Cruz. Nada sobre o que mobilizou tanto a atenção dos que consideram o desmatamento e a depredação agressões inaceitáveis ao patrimônio natural e à memória da cidade.

Se o interesse sobre o tema não chegou aos pretendentes à gestão pública e a um assento na Câmara de Vereadores, podemos pensar em várias hipóteses: o problema não tem importância para a política; é relevante, mas é bom não se meter no assunto; não gera votos, então é melhor ignorá-lo. Há outras hipóteses, mas deixo-as a cargo do leitor.

Apesar do silêncio da esfera pública, usado como estratégia, o problema não deixou de existir nem foi esquecido pelos que defendem a conservação do Morro da Cruz e a sua transformação em parque ecológico municipal e lugar de lazer e contemplação próximo ou dentro da ambiência natural.

Esse silêncio proposital não é bom para ninguém. O tema ambiental é relevante e a cidade não pode deixar de enfrentá-lo. Daí que a política não pode fugir dele nem desconsiderar o que a sociedade pensa a respeito.

Num momento desses, é bom ouvir quem pode contribuir sensatamente. Por exemplo, o engenheiro industrial e ornitólogo brasileiro, de ascendência dinamarquesa, Johan Dalgas Frisch, autor, com seu filho Christian, do excelente “Aves Brasileiras e Plantas que a Atraem”. Ele pediu à presidenta Dilma que o governo, ao construir conjuntos habitacionais, conserve o maior número possível de árvores e plante outras tantas. Sua tese é simples: se as crianças crescerem ouvindo o canto dos pássaros, tem mais chance de tornarem-se pessoas sensíveis e solidárias.

Mas não só isso: há um pragmatismo em se viver próximo a pássaros e plantas. “Onde tem aves, tem qualidade de vida. Onde tem aves, tem negócios prolongados. Elas tem a força para conduzir investimentos num condomínio bem planejado ou de conseguir votos para administradores bem intencionados”.

Interrompo aqui o pensamento de Johan Dalgas Frish para lembrar que o abaixo-assinado em defesa do Morro da Cruz, entregue ao Prefeito de Oeiras em 2012, continha 1.462 assinaturas. Mesmo que não se leve em consideração os assinantes sem domicílio eleitoral em Oeiras e os que não estão em idade de votar, o número é suficiente para eleger, folgadamente, um vereador no município. E pode fazer a diferença na disputa pelo cargo de prefeito.

Como uma política ambiental bem intencionada pode germinar votos? Johan Dalgas Frish explica: “Muito simples. Uma cidade com parques, jardins, bela arborização e muitas flores consegue atrair sabiás, canarinhos, bigodinhos, periquitos, beija-flores, um sem-número de pássaros e... votos”.

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