Amor & Sexo, da Globo, fala de temas eróticos com humor e
informalidade. Mas nada se compara ao vocabulário nu e cru do programa regional
Sem Vergonha
Bruno Meier
É hora
do rush em São Luís, no Maranhão, e a morena de 1,75 metro caça entrevistados
num ponto de ônibus. Ela aborda as pessoas sem nem um “com licença” e já sai
perguntando sobre o tema do dia — não muito agradável: era a semana dedicada à
prevenção do câncer de próstata. “Tenho medo de me viciar”, responde um taxista
gaiato quando a repórter pergunta sobre o exame proctológico. Duas senhoras de
idade observam o tumulto a uma distância cautelosa. “É aquele programa da
noite, Só Sacanagem”, diz
uma delas. A outra corrige: “Não. O nome é Sem Vergonha”. Não
haveria título mais exato para essa atração regional. No Sem
Vergonha, a jornalista maranhense Mônica Moreira Lima conversa
sobre sexo, todas as noites de sexta-feira, na TV Guará, retransmissora da
Record News, com linguagem desabusada e atitude para lá de liberal. Uma
espectadora pergunta, por e-mail, se de bicicleta também se chega ao êxtase, e
Mônica logo assume a linha “vale tudo pra chegar lá”, recomendando
brinquedinhos ou, na falta deles, certos legumes. “O importante é ter prazer.
Até banco de bicicleta, sim: você pode entrar em forma e ainda manter sua
satisfação sexual em dia.” Isso é que é cicloativismo!
“Não sou sexóloga. Minha única referência são 31 anos de ****”,
diz Mônica (como ela tem 46, sabe-se que se iniciou no tema com 15). A
apresentadora explica que a linguagem mais do que franca tem a ver com sua
personalidade: “O romantismo me *****. Gosto da fuleiragem”. Durante nove anos,
Mônica foi repórter e apresentadora de jornais locais na TV Mirante, da família
Sarney, afiliada da Globo. Abandonou o posto, descontente com o salário de
2 000 reais, mas ainda elogia o antigo patrão: “José Sarney é amigo da família.
Um tio meu pegava carona em seu avião quando ia para Brasília”. Há dois anos na
Guará, Mônica começou falando de política. Mas o empresário Roberto
Albuquerque, proprietário da emissora, achou o tom de Mônica muito parcial (no
pleito deste ano, ela torceu pelo comunista Flávio Dino, que acabou eleito
governador). Surgiu então a ideia de ela se dedicar a temas menos escandalosos
que a política. Albuquerque deu a ela uma referência: Marta Suplicy, que antes
da carreira política teve um programa de sexo na Globo. Em fevereiro deste ano,
surgia o Sem Vergonha. No CQC,
da Bandeirantes, o quadro Top Five, catadão de momentos pitorescos da TV do
Brasil, já levou as tiradas de Mônica ao ar três vezes. Na mais famosa, ela
gentilmente convida as espectadoras a abandonar o temor do sexo por vias não
convencionais: “Essa mulherada tá economizando essas ****** pra quê?”. Diz
Albuquerque: “Criei um monstro”.
Uma atitude desassombrada e irreverente é fundamental para quem
conduz programas de sexo. A canadense octogenária Sue Johanson empolgava ao
falar com autoridade e naturalidade sobre práticas sexuais, mas sempre chamando
as coisas pelo nome de família: pênis, vagina etc. Atualmente no ar pela Globo,
Amor & Sexo é mais informal, mas nem de longe tão explícito quanto Sem
Vergonha. Com uma bancada entrosada (excetuando-se Otaviano Costa,
que soa sempre desesperado para aparecer), o programa de Fernanda Lima já está
em sua oitava temporada. As diferenças entre as duas sexólogas improvisadas não
são só de estilo: Fernanda ganha sessenta vezes o salário de Mônica, que
complementa os proventos da TV com um programa de rádio e trabalhos de
assessoria de imprensa. Aliás, não convém citar o nome de Fernanda Lima perto
da maranhense: “Tanto investimento para um programa superficial. Ela canta e se
veste de perereca (o
batráquio, deixe-se claro). Ridículo”, desdenha.
Embora a carreira de conselheira erótica televisiva seja
recente, Mônica sempre gostou do assunto: “Quando criança, media o ***** dos
meus primos e os peitos das minhas amigas”. Diz que seus três filhos têm acesso
à lista na qual anota o nome e as características (aquelas que interessam, ao
menos) de todos os homens (não, nenhuma experiência gay) com quem já teve sexo.
Com Sem Vergonha, ela descobriu um público ousado, que lhe
manda fotos tão explícitas quanto a linguagem do programa. “Uma loucura. Mandam
cantada, pedido de casamento e fotos de **** e ****” (os asteriscos aqui
encobrem dois termos sinônimos para a mesma porção masculina). Casamento não
está no horizonte: Mônica diz que há dezesseis anos não tem um parceiro firme.
Recorre a um eventual P.A. (a sigla é típica do vocabulário da jornalista; A
quer dizer “amigo” e P é o que se adivinha). Tem também sua coleção de
brinquedinhos — o favorito tem regulagem com controle remoto, e ela o usa na
balada, enquanto dança e “sensualiza”. Ah, sim: de vez em quando, ela vai de
bicicleta para o trabalho. Fonte: Veja.com.br
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