É impossível percorrer um jornal qualquer, seja qual for
o dia, o mês ou o ano, sem deparar quase linha por linha com os sinais da
perversidade humana mais detestável, quase sempre acompanhados pelas mais
inverossímeis proclamações de honestidade, de bons sentimentos e de caridade,
ou por manifestações de maior confiança em relação ao progresso e à
civilização.
D primeira à última linha todos os jornais não passam de
um amontoado de horrores. Guerras, crimes, roubos, atentados ao pudor,
torturas, crimes públicos (corrupção) e crimes particulares – enfim, o delírio
de uma crueldade universal.
E é com este repugnante aperitivo que o homem civilizado
toma todos os dias o seu café da manhã. Tudo neste mundo transpira a crime: o
jornal, a muralha e a face do homem.
Custa-me a acreditar que se possa de mão limpa tocar num
jornal sem sentir um vômito de repulsa.
por Charles
Baudelaire (extraído do livro Meu Coração a Nu)
Em
TemPo:
Quando este texto foi escrito pelo poeta francês Charles
Baudelaire, ainda não existia televisão e a Internet nem em sonho existia. Hoje o
sangue jorra é da tela da TV e dos sites de notícias. Este texto de Baudelaire é de uma atualidade desconcertante.
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