segunda-feira, 30 de novembro de 2015

A poesia segundo JUCIVALDO DIAS



A SECA NO MEU SERTÃO

É triste a gente ver
No azul da imensidão
Pelo espaço a se perder
Uma pomba de arribação
Sem saber onde pousar
Procurando se afugentar
Das quebradas do Sertão
Vagando constantemente
Sem saber a inocente
Se um dia volta ou não.

O fazendeiro descrente
Um jeito não pode dar
Cabisbaixo tristemente
Ele fica a soluçar
Com o gado o tempo inteiro
Amaiado no terreiro
Sem poder mais ressoar
Berrando e escavacando
E a mulher doida brigando
Sem ração poder comprar.

Com o Nelore doente
Sem poder mais defecar
Fica o dono impaciente
A ponto de se acabar
Entre a densa e seca folhagem
Lhe trazendo uma mensagem
Berra uma vaca sem parar
Reclamando o triste pasto
Desfegurado e arrasto
Incapaz de alimentar.

O urubu come e arrota
Com esta riqueza vã
Comendo matéria morta
Pra ele tudo é maçã
Animais potrificado
Carneiro, cavalo e gado
Come a carne, o couro e a lã
Ainda fica se sacudindo
Como quem está pedindo
Que se acabe outro amanhã.

Um forte grito, um agouro
Logo cedo de manhã
De gargalhada e de choro
Da feia e triste cauã
Escondida dentro das matas
Entre as grutas e cascatas,
E garranchos de jaçanã
Vinda não sei de onde
A pobrezinha se esconde
Nas ramas da mocunã.

Até a  pobre Juriti
Madrugadeira do Sertão
Escondida por ali
Sem nenhuma proteção
Sofrendo essa mazela
Mal sabe ela
Se dessa escapa ou não
Vivendo no desacato
Sujeito ao pulo de um gato
Ou de um currupião.


Nosso mandacaru
Sem flor e sem botão
E o sapo cururu
Não coachou no grutão
São sinais que o Nordestino
Desde os tempos de menino
Se baseia no Sertão
E não esquece jamais
Que sem esses sinais
A chuva não cai no chão.

Gorjeia triste o bacurau
Dizendo que o caso é sério
Canta o João corta pau
Seu poema funério
A fúnebre e feia cigarra
De Zum, Zum e Ganzarra
Parece até um mistério
Quem vê faz a comparação
Que nosso caro Sertão
Já virou um cemitério.


De repente um rouxinol
Roda feito uma carrapeta
Sentindo o ardor do sol
O pobrezinho faz careta
A procura de uma sombra
Mas de medo se assombra
Foge em meio a mata preta
Tudo é aflição e pranto
Nem por milagre dum santo
Aparece uma borboleta.

Amanhece e o sol se derrama
Na terra seca e ardente
Aumenta mais o drama,
E o Sertão fica mais quente
Eu sinto com a mente pura
Que a sagrada escritura
Do Grande Onipotente
Aos poucos vão se cumprindo
E os sinais estão surgindo
Como disse o Pai clemente.


Dardeja o sol quente
Tostando a face do chão
Com o olhar de penitente
Observo a imensidão
Ouço o gado berrando
Mugindo e escaramuçando
Na beira do grotão
De fome e sede não resiste
Ai meu Deus como é triste
A seca no meu Sertão.

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