*Por Rogério Newton*
A atual
polarização política em torno do “impeachment” comporta muitos tipos de
abordagem. Permitam-me falar um pouco sob o prisma da moderna teoria do conflito, aplicada aos modelos consensuais de resolução
de conflitos no âmbito judicial, como conciliação e mediação.
Em primeiro
lugar, o conflito nem sempre é negativo. Se encarado de forma apropriada, pode
ser um importante meio de conhecimento, amadurecimento e aproximação dos seres
humanos. Se conduzido inteligentemente, pode suscitar progressos quanto à ética
e à responsabilidade. É o que diz a moderna teoria do conflito.
Há um
evidente conflito político no Brasil, marcado por dois grupos antagonistas,
firmemente enrijecidos em suas posições: os prós e os contras “impeachment” da
presidente Dilma. Ambos acham que têm razão e acusam o grupo adversário dos
piores crimes. Da forma como está sendo conduzido (ou orquestrado), o conflito
político está totalmente fora das recomendações que a moderna teoria do
conflito preconiza para se encontrar alternativas para resolvê-lo.
A julgar
pelo que é divulgado maciçamente na mídia, especialmente a televisiva, há uma
extrema pobreza de alternativas, pois a única via apresentada é a do
perde-ganha, algo parecido com um Fla-Flu, sendo este mais rico de opções, já
que há possibilidade do empate.
Lamentavelmente,
os grupos antagonistas, em nenhum momento, colaboram no sentido de um processo
construtivo, que prevê busca de soluções, compreensão de comportamentos,
análises de intenções, despolarização, compartilhamento do poder decisório,
entendimento, paz e realização. Abertamente, os antagonistas, optaram pelo
“método destrutivo”, por isso, a todo momento, atribuem culpa, julgam, reprimem
comportamentos, estimulam ódio, agressão, insultos, violência, polarizam,
recordam regras ou normas, advogam a centralização do poder decisório e tentam
vencer a qualquer custo, pouco importando os meios.
O resultado
do “método destrutivo”, alimentado pela mídia e por outros setores
reacionários, são as “espirais destrutivas”, uma progressiva escalada de relações
conflituosas e agressivas de ambas as partes, que reagem de forma cada vez mais
severa às ações do antagonista, criando novas questões e pontos de disputas. Os
ânimos se acirram, as posições ficam mais rígidas e inflexíveis, as emoções
negativas superam a racionalidade, gerando uma única via (o “perde-ganha”), ao
invés de uma variedade de possibilidades, que seria o mais sensato para a
solução do atual, e até certo ponto artificial,
Em resumo,
toda essa onda política conflituosa, no centro da qual está aparentemente o
processo de “impeachment” com seus interesses inconfessados, apresenta a cada
brasileiro a falsa impressão de que há apenas uma única possibilidade de resolução,
que é: “eu ganho, você perde”. Mas quem conhece mesmo que seja um pouco sobre
os métodos de solução de conflitos sabe que um processo de negociação, mediação,
conciliação ou outro modelo escolhido, pode apresentar uma gama enorme de
possibilidades, desde que haja espírito de cooperação entre as partes.
Mas aí está
o problema: as partes em disputa não colaboram, permanecem engessadas em suas
posições, questionáveis, diga-se de passagem, e jogam todas as fichas (sujas)
num processo destrutivo, em que vigora a “ditadura do pensamento único”, que só
admite ganhar ou perder. Desafortunadamente, está fora de cogitação a possibilidade
de que todos saiam ganhando, inclusive o povo brasileiro, que é o principal interessado.
Ambos os
grupos antagonistas, e os seguidores que ardilosamente ou não lhes dão
sustentação, estão cegos, presos às suas armaduras de ego, só pensam em sua
própria vitória, sem se importar que todo esse processo encaminha-se perigosamente
para arremessar o Brasil num clima de instabilidade, em que todos saem perdendo,
a não ser os que se locupletarem com o resultado, o que, aliás, é uma ilusão,
já que, eticamente, a locupletação não se sustenta.
Infelizmente,
a classe política brasileira (e interesses econômicos nem sempre ocultos)
optaram pela polarização agressiva e irracional. Qualquer que seja o resultado
do processo de “impeachment”, este será bom para um dos polos antagonistas. Um
deles sairá ganhando e sorrirá para as câmeras de TV. O que estamos assistindo
é mais um espetáculo político para iludir.
*Rogério Newton é defensor público estadual, poeta,
escritor e ambientalista.
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