O desconforto
de Temer na foto é bastante evidente
Nos
últimos dias, Michel Temer revelou-se especialmente preocupado com o tempo. Seu
relógio parece não ter ponteiros, mas espadas. O substituto constitucional de
Dilma Rousseff tem pressa. Quer saltar do crepúsculo da interinidade e, sem
mais demora, entrar no porvir da Presidência efetiva.
Temer alega que não ficaria bem comparecer à reunião do G-20, na
China, nos dias 4 e 5 de setembro, com o rótulo de interino ainda grudado na
testa. A justificativa parece frágil. Há na praça um motivo mais plausível para
o interesse de Temer de imprimir ao julgamento do impeachment um ritmo de toque
de caixa: a delação da cúpula da Odebrecht.
Em notícia veiculada na Veja, o repórter Daniel Pereira
informou que a delação de Marcelo Odebrecht incluiu revelações sobre uma
conversa ocorrida no Jaburu, palácio que tem Temer como inquilino. Deu-se em
maio de 2014. Convidado para jantar, o príncipe da maior empreiteira do país
foi mordido em R$ 10 milhões. Além de Odebrecht e do anfitrião, estava à mesa
Eliseu Padilha, hoje chefe da Casa Civil.
De acordo com o delator, os R$ 10 milhões transitaram pelo caixa
dois. Foram escriturados no departamento de propinas da empreiteira. Do total
mencionado no jantar, R$ 4 milhões tiveram Eliseu Padilha como destinatário. Os
outros R$ 6 milhões destinaram-se à campanha do presidente da Fiesp, Paulo
Skaf, que disputou o governo de São Paulo em 2014 pelo PMDB, com o apoio de Temer.
Temer e Padilha confirmam que participaram do repasto com
Marcelo Odebrecht. O presidente interino confirma ter conversado com o
empreiteiro sobre dinheiro. Pediu “auxílio financeiro da construtora Odebrecht
a campanhas eleitorais do PMDB.” Temer alega, porém, que tudo foi feito “em
absoluto acordo com a legislação eleitoral em vigor”. Nessa versão, a verba foi
declarada à Justiça Eleitoral. Padilha diz que não recebeu ajuda da
construtora, já que não foi candidato na eleição de 2014.
Em menos de três meses, é a segunda vez que Temer é acusado por
um delator da Lava Jato de pedir pessoalmente verba de má origem para campanhas
do PMDB. Em junho, o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, acusou o
correligionário Temer de encomendar R$ 1,5 milhão para a campanha de Gabriel
Chalita à prefeitura de São Paulo, em 2012. Temer tachou as declarações de
Machado de “irresponsáveis, mentirosas, levianas e criminosas.”
Aos pouquinhos, o petróleo queimado do escândalo da Petrobras
vai tocando o bico do sapato de Temer. As delações pedem provas. Mas o contexto
orna com a condição do PMDB, sócio majoritário do PT no empreendimento que
resultou na pilhagem do Estado. A pressa de Temer em relação à formalização do
impeachment foi encampada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros. Logo ele,
protagonista de nove inquéritos na Lava Jato. Conteúdo do blog do Josias
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