Dom Jaime Spengler – Arcebispo de Porto Alegre
(RS)
A
ciência moderna é um empreendimento genuinamente humano, sempre a caminho. Ela
realiza demonstrações e busca certezas. A ciência sempre terá com que se
ocupar, pois o universo, com suas estruturações, dimensões e realizações, é
dinâmico. O universo é um organismo vivo!
A
ciência tem um modo de proceder característico. Por meio de método específico,
ela se empenha em buscar a verdade. No entanto, em seu empenho ela vai
encontrando certezas. Recentemente, a ciência vem apresentando elementos que
apontam para uma transformação perigosa do ambiente, por obra humana. Expressão
maior dessa transformação é, segundo especialistas, a mudança climática.
Há
um razoável consenso entre cientistas a respeito das influências da ação humana
sobre as mudanças climáticas em curso. Essas transformações tendem a favorecer
a multiplicação de fenômenos climáticos – secas prolongadas, enchentes,
furacões, tufões, chuvas torrenciais. Na base desses fenômenos está certamente
o modelo de desenvolvimento econômico escolhido pelos governos. Portanto,
também as mudanças climáticas são expressão de escolhas políticas. Por isso, é
urgente que todos, governos e governados, assumam sua parcela de
responsabilidade, deixando de lado os lobbies que se orientam nos meros
interesses financeiros, o comodismo, o conformismo e a indiferença.
Urge
crescer na consciência de que a geração atual é responsável pela qualidade de
vida do planeta para as gerações que virão. Os filhos e netos da atual geração
terão um mundo melhor ou pior que o atual, dependendo das opções e decisões,
certamente drásticas, que atual geração for capaz de assumir.
O
presente é preocupante! O momento atual é considerado crucial para a
continuidade da própria vida no planeta Terra.
O
Papa Francisco, em 2015, publicou um documento intitulado “Laudato Si –
sobre o
cuidado da casa comum”, no qual afirma que “há um consenso científico
muito
consistente, indicando que estamos perante um preocupante aquecimento do
sistema
climático. Nas últimas décadas, este aquecimento foi acompanhado por uma
elevação constante do nível do mar, sendo difícil não o relacioná-lo
ainda com
o aumento de acontecimentos meteorológicos extremos, embora não se possa
atribuir uma causa cientificamente determinada a cada fenômeno
particular”. E continua: “o aquecimento influi sobre o ciclo do carbono.
Cria um
círculo vicioso que agrava ainda mais a situação e que incidirá sobre a
disponibilidade de recursos essenciais como a água potável, a energia e a
produção agrícola das áreas mais quentes e provocará a extinção de parte
da
biodiversidade do planeta. (…) Se a tendência atual se mantiver, este
século
poderá ser testemunha de mudanças climáticas inauditas e de uma
destruição sem
precedentes dos ecossistemas, com graves consequências para todos…”.
O
cuidado para com a “casa comum” exige uma profunda mudança no estilo de vida e
nos princípios e valores que orientam a ação humana. Essa mudança, a tradição
cristã denomina de conversão.
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