O museu das coisas que se disse ao longo da vida inteira é o
futuro
escrevo comentários em blogs de autores mortos
dentro do estojo de óculos dela tem um patuá de santa clara
com os textos que trago tatuados no corpo
tenho como ambição alfabetizar os vermes do andar debaixo
possuo alguns mimos: árvores batizadas de delicadeza perdida
um sofá-cama preguiçoso chamado gatinho
e o tempo parado no relógio da Igreja do Carmo
o museu das coisas que se disse ao longo da vida inteira é o futuro
daqui a cem anos meus poemas vão virar receita culinária
na Feira da Praia Grande e os de Jorgeane horóscopo do dia
uma vez fiquei com o ouvido ausente
e os últimos sons que permaneceram
foram o barulho de pedreiros em obra
a zoada da enceradeira no corredor do prédio
e o ruído da máquina de lavar aqui de casa
fiquei encantado com o que chamei de epifania
das coisas de fato vocacionadas para a vida
e visto que a vida é breve e por vezes brevíssima
talvez sua maior invenção seja a repetição
pergunto-me sempre o que é uma pessoa que não atende mais a um psiu!
hospital, travessia e cemitério
cada um faz o que pode pra fugir dos extremos
cada um faz o que pode pra batizar de alegria o seu mais belo fracasso
Dyl Pires, poeta e ator (Cia de Teatro Os Satyros - São Paulo). Tem publicado os livros: O Círculo das Pálpebras (Func) e O Perdedor de Tempo (Pitomba). Os poemas na Acrobata pertencem à obra O Torcedor, que será lançada agora em 2014. Dyl Pires é um poeta e ator maranhense.
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