sexta-feira, 18 de junho de 2021

A poesia segundo Ana Cristina Cesar

 

Samba-Canção

 

Tantos poemas que perdi
Tantos que ouvi, de graça,
pelo telefone – taí,
eu fiz tudo pra você gostar,
fui mulher vulgar,
meia-bruxa, meia-fera,
risinho modernista
arranhado na garganta,
malandra, bicha,
bem viada, vândala,
talvez maquiavélica,
e um dia emburrei-me,
vali-me de mesuras
(era uma estratégia),
fiz comércio, avara,
embora um pouco burra,
porque inteligente me punha
logo rubra, ou ao contrário, cara
pálida que desconhece
o próprio cor-de-rosa,
e tantas fiz, talvez
querendo a glória, a outra
cena à luz de spots,
talvez apenas teu carinho,
mas tantas, tantas fiz…

 

Ana Cristina Cesar foi uma das principais representantes da Poesia Marginal, movimento literário conhecido também como Geração Mimeógrafo. Formada em Letras pela PUC-Rio, mestre em Comunicação pela UFRJ e em Teoria e Prática de Tradução Literária pela Universidade de Essex, na Inglaterra, Ana também foi poeta, jornalista, tradutora e crítica literária.

Nasceu no dia 02 de junho de 1952, no Rio de Janeiro, e foi em meio à geração do mimeógrafo que seu nome surgiu para a literatura brasileira.

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