terça-feira, 31 de maio de 2011

Veredicto: culpados

Por Silvana Duailibe

Conviver é muito difícil, todos concordamos. Mas, exatamente, onde fica o nó?
Acho que ele fica na soma do que somos. Ninguém é simples e linear. Se fôssemos assim, não seríamos humanos. Somos uma combinação de curvas e de complicadas equações. Misturar essas diferentes equações só poderia resultar em confusão, é claro.
Os americanos têm uma expressão para definir as pessoas de fácil convivência - “easy going”, que, na verdade, tem o mesmo sentido do nosso “fácil de levar”.  Se você é, portanto, uma “easy going person”, parabéns; significa que faz parte do seleto clube das pessoas que se estressam pouco e, principalmente, que não infernizam os outros. Isso existe? Sim, mas é raro e, na maioria das vezes, é fruto de alguma experiência. Ganhar jogo de cintura para viver melhor faz parte de um pacote de prêmios gerado por vivências e alguma estrada.
Você quer ver um elemento complicador dos mais virulentos, nas convivências? A vaidade.
Originária de “vanitas” ou “vanitatis” e de “vanus” do latim, a palavra vaidade quer dizer “vácuo”, ou seja, o vazio absoluto.
Bem, eu não chegaria ao ponto de apontar qualquer vaidade como um espaço vazio, mas, sem dúvida, o vaidoso é alguém que tira sempre de algo importante coisas de pouco valor em prejuízo de si mesmo e de outros. Eu diria, para simplificar, que o vaidoso é um sujeito meio cegueta, que tateia e escolhe o pior, seduzido por um falso brilho.
Conviver com um vaidoso do próprio corpo é chato, nauseante, mas só leva a grandes danos se houver narcisismo mórbido, daqueles que apagam com uma borracha as pessoas ao redor.
O vaidoso do dinheiro e do poder é um pobre coitado, frágil e inseguro. A convivência com esse tipo de pessoa, no entanto, exige negociações constantes, barganhas desgastantes e, muitas vezes, um distanciamento perigoso das coisas essenciais.
Mas, é no vaidoso intelectual que reside a maior das armadilhas. Ele é sabido demais para ouvir e superior demais para discutir. Dividir a vida ou o trabalho com um tipo desses pode significar um tiro na auto-estima e o que seria uma relação de afeto ou uma divisão de responsabilidades pode se transformar numa eterna e inútil competição, sem nenhum vencedor ao final de cada embate.
Entretanto, é bom lembrar da frase do filósofo  Friedrich Nietzsche, que diz: "A vaidade alheia só nos é antipática quando vai de encontro à nossa." Ou seja, em maior ou menor escala, ninguém escapa da vaidade, por algum motivo. Somos egocêntricos e zelosos da própria imagem. Dificilmente, nos desvencilhamos do egoísmo para ajudarmos alguém, de fato, a não ser que essa pessoa nos traga algum benefício. Estamos sempre a postos na defesa dos nossos próprios interesses e na busca do nosso próprio prazer.
Se Nietzsche fosse vivo ainda, ele menearia a cabeça, coçaria o queixo e repetiria a sua velha e conhecida máxima: “Humano, demasiadamente humano!”
Dessa forma, a tolerância e um “mea culpa” básico e diário talvez servissem como atenuantes nessa guerra de egos.

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Silvana Dualibe - é odontopediatra, professora de Odontologia do Uniceuma e maranhense.

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