sexta-feira, 6 de março de 2009

A salada indigesta de Lula

Mudança. Essa é a palavra-chave."

Assim o presidente Lula iniciou seu discurso de posse no primeiro dia de 2003.

Seis anos depois, o Senado Federal é presidido por José Sarney e elege Fernando Collor de Mello para chefiar a Comissão de Infraestrutura em ano PAC.

A chave é a mesma, mas a palavra certamente não é mudança.

Não que Lula não tenha promovido mudanças. Ele mesmo é mudança num Brasil sempre dominado pelas elites.

Mas se o presidente manteve o que precisava ser mantido (a estabilidade econômica, com relativa responsabilidade fiscal, câmbio flutuante e inflação na meta), não mudou o que precisava ser mudado (o fisiologismo descarado descambando para o crime organizado da política nacional).

Até porque é fácil governar com o PMDB.

E se o petismo-lulista não inventou nenhum odor novo em Brasília, sua adesão voraz à locupletação tornou ainda mais desenvolta e hegemônica a desfaçatez do jogo político, como mostra o ritmo alucinante de escândalos, do Oiapoque ao Chuí, passando obviamente pelos centros mais avançados do país, vide o escandaloso vídeo com suposta compra de cargos na PM paulista.

E os presidenciáveis Serra e Dilma nada falam contra a corrupção e a impunidade, apesar do clamor popular, pois, como todo político importante do Brasil, são parte desse estado de coisas.

O perigo é aparecer um outsider, agora prometendo caçar não marajás, mas corruptos.

Em plena crise econômica global, a economia brasileira resiste com dignidade maior do que a dos países avançados, prova do quanto avançamos na área desde o Plano Real (1994).

Já a política nacional segue ladeira abaixo, puxando o país consigo num descaminho moral que contamina todos os Poderes, nos atrasa e nos sufoca.

Lula é fundamental para o avanço econômico com sua manutenção da estabilidade e seu input popular que ajudou a melhorar a vida de milhões de brasileiros, fortalecendo nosso mercado interno.

Mas o adesismo de Lula é também fundamental para esse aceleramento do processo de degeneração política, que come parte do salto de qualidade econômico.

Ao comentar a vitória de Collor, com seu aval, na comissão do Senado, o presidente petista recomendou "fazer disso uma boa salada".

Só com estômago de rato...

Sérgio Malbergier é editor do caderno Dinheiro da Folha de S. Paulo. Foi editor do caderno Mundo (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para a Folha Online às quintas.
E-mail: smalberg@uol.com.br

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