Acompanhando os jogos do campeonato mundial que estão sendo realizados na África do Sul, e a repercussão desses jogos nos países subdesenvolvidos, percebe-se que a alegria é comum a todos eles. O mesmo clima não se percebe nos estádios, nas áreas onde ficam os torcedores dos países ricos e desenvolvidos. Os ricos torcem, mas de maneira educada e contida, sem exagero e sem euforia. As vulvuzelas, uma invenção dos africanos do sul, nos dão a exata dimensão das diferenças entre o comportamento dos pobres e dos ricos durante esses jogos.
O brasileiro que faz parte de um país que integra o clube dos países pobres e subdesenvolvidos tem um comportamento que em nada difere do comportamento do torcedor sul africano, do marroquino, do nigeriano, do ganense, enfim; de todos os países que integram o continente mais pobre e subdesenvolvido do mundo.
Nas regiões periféricas do Brasil, como as favelas do Rio de Janeiro, as cidades da Grande São Paulo e os seus cortiços, as palafitas de Recife, Salvador, São Luís e as vilas bairro de Teresina, em momentos como este, a alegria toma conta de todos. Agora como explicar para um europeu ou norte-americano, como um povo que vive mergulhado na mais extrema miséria, ainda reúne forças para ser alegre? Essa alegria é incompreensível para quem vive uma cidadania plena.
Nem o antropólogo Darcy Ribeiro, nem o historiador Sérgio Buarque de Holanda conseguiram interpretar o Brasil. Entender o comportamento cordial, festivo e acolhedor do povo brasileiro que contraria a lógica. Como entender um povo que vive em condições sub-humanas, mas que ainda tem disposição para sorrir, cantar, dançar e ser receptivo? O clima temperado e quente, talvez explique o modo de ser do povo brasileiro, que vive ao sul do equador ou em última análise, esse comportamento do povo brasileiro pode ser tomado como doentio. Observemos a pequena diferença que existe no comportamento do brasileiro do Sul para o brasileiro do Norte. Uma diferença pequena é verdade, mas uma diferença que é como se existissem dois países dentro de um só.
Mas, também pode ser que esse nosso comportamento tenha raízes culturais. O que nos aproxima ainda mais dos povos pobres e subdesenvolvidos do continente africano, porque a formação do povo brasileiro tem mais componentes da cultura africana, do que indígena ou européia.
Qualquer que seja a nossa matriz cultural, o certo é que não se justifica essa nossa alegria exagerada, que faz com que os povos desenvolvidos acabem por não nos levar muito a serio. Não é á toa que o Brasil é conhecido lá fora, como a terra do samba, da mulata boazuda e do mulato inzoneiro. Valores que nos depreciam, mas que colocam o nosso país no lugar que ele realmente merece, porque até nós os brasileiros não nos levamos muito a sério.
De uma coisa você pode está certo: não é com esse nosso jeitinho brasileiro, que algum dia chegaremos a participar do clube das nações ricas e desenvolvidas. O nosso maior problema continua sendo de natureza cultural, o que nos impede de ver a vida como na realidade ela é. Neste exato momento em escrevo este texto, acredite, tem brasileiro deixando de comprar um litro de leite, um quilo de carne, para comprar uma fantasia verde amarelo, para vibrar com as vitórias da nossa seleção.
Muitos me acham radical. Estou pouco me lixando para quem pensa assim. Sendo ou não radical, o que me move é a confiança de que ainda é possível mudar o nosso jeito brasileiro de ser: preguiçoso, indolente, influenciável e alegre sem um motivo justificável.
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