“Na hora de odiar, ou de matar, ou
de morrer, ou simplesmente de pensar, os homens se aglomeram. As unanimidades
decidem por nós, sonham por nós, berram por nós” (Nelson Rodrigues)
Vou lançar agora uns parágrafos... Nem
precisa lê um depois do outro: cada um é por si. E a revelação independe da
ordem. Aqui a desordem faz sentido. Então, é como se cada qual (e seu bastante)
fosse micro crônica, conversas paralelas. Solidões e pontos. Entenda; se
quiser.
E sim: é sobre essa coisa de estarmos
conectados o tempo inteiro. Cada vez mais perto e longe de alguém e de todo
mundo. Sobre a solidão do Instagram. Sobre os amores móveis. Sobre ser
adicionado e aceitar. Estes parágrafos de hoje são para que a desconectopia
exista e a gente possa aproveitar mais quem está ao nosso lado, inclusive o
ócio, por exemplo.
Eu tenho relações offline. Adoro, por
sinal. Sim: enquanto tem gente que vê pessoas mortas, eu vejo pessoas offline.
E as tenho por perto. Bem perto.
Primeiro que ninguém mas anota o
telefone do outro. Número de telefone (coisa que ninguém mais decora) já é
vintage. A pergunta é : “Você tem Facebook?”. Me adiciona. E curte,
vai!”. Em todo caso, é preciso ter um smartphone na mão. E todo mundo
tem. Quantos homens e mulheres estão conectados por uma torre de telefonia
móvel agora? Milhões? Ninguém mais cruza a linha. A rede cai, ou está ocupada.
O Facebook acabou com a linha cruzada. Ninguém mais atende uma ligação,
desliga e diz pro outro do lado: “Era engano”. Não é necessário fingir que
ligou um número errado pra falar com alguém. Não há mais enganos. Eu estou
aqui, você aí. Por que não me liga? Estamos todos “in box”.
A solidão das grandes cidades está em
ver. Observar. Como quem assisti ao movimento pelo monitor. Esse balé
sincronizado não o inclui. Você permanece estático, mas vê tudo. E a
multidão se move cega. Ninguém cruza olhares. Sem emissão, sem recepção. O
espectador que somos, virou uma espécie “moça de quatro-olhos do baile de
formatura”. E ninguém tira ninguém pra dançar.
Quem diria: fumar aproxima as pessoas.
Certa vez alguém percebeu a completa falta de sentido do ato ao fumar de luvas.
Fumar é tato. Para o fumante não sentir o cigarro, é não fumar. O cigarro só
existe entre os dedos. Talvez seja a prova de que quando algo está em suas mãos
(você sente, é seu), há uma destemida postura diante de tudo, inclusive a de
ignorar que há fumaça em seus pulmões e de que todo mundo vai morrer um dia,
fumando ou não. E você queimaria a última chance? Vamos “fumar o último
cigarro” juntos? Você tem fogo? Ah, você está online e não podemos arder
juntos.
Não me deixe aqui sozinho. Não sei o
que é mais real, a não ser o esquecimento. Me retuita. Me ecoa. Me segue.
Nenhum, nem outro, nem coisa nenhuma. Eu te devoro e você não me decifra. E o
Twitter poderia se chamar Esfinge. Mas tá mais pra um esfíncter.
O jeito é soluçar naufrágios. Lançar
mensagens em garrafas ao mar não é o mesmo que pedir atenção na Linha do Tempo
de um Face alheio de amigos? A garrafa chega a um lugar: que pode ser o lugar
nenhum, como uma ilha deserta cercada de clichês de solidão por todos os lados.
A única ideia de solidão imune ao lugar-comum é o naufrágio, exatamente porque
o naufrágio não é um lugar, é um meio. Afundamos ou boiamos ao meio? Por
inteiro, sempre, seja o que for.
Quando você me envia um SMS me dá
vontade de responde SOS.
Até outro dia, gentes agradeciam a Deus
em notas de dinheiro. Antes, escrevíamos cartões de felicitações e ligávamos
pra dar os parabéns. Tudo agora vai por SMS, email, inbox. Até fim de relação
desce assim, pelo ralo da internet, goela abaixo. Eu, também, gosto
de agradecer a Deus. Enviei um email pra Ele, mas voltou assim:
daemom_mailer_full_box. Deus não está no Facebook. Aceitei. Aceita!
De certa forma estamos todos dentro de
uma “sala” com mais de três bilhões de pessoas, das mais loucas às mais
geniais, das sem noção às brilhantes... No começo eu achava legal. Todos acham.
E isso já faz um bom tempo... Só que cansa: exposição demais, a vida alheia e
um bando de gente como “daquele tipo”, como se estivéssemos numa festa “com
gente estranha e esquisita: eu não tô legal”. Estamos todos muito ocupados.
Muito mais ocupados. Ultra conectados. E-mails, mensagens de texto e de voz;
cutucadas (coisa insuportável), prods e tuites; alertas e comentários; links,
tags e posts; fotos e vídeos; sites, blogs e vlogs; buscas, downloads, uploads,
arquivos e pastas; feeds e filtros; murais, widgets, clounds; nomes de usuário,
senhas e códigos de acesso; pop-ups e banners; rigtones e vibrações;
aplicativos e check-in... Ufa! Não é hora de fazer um check-out?!
ALexPalhano -
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