quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Solidões móveis, por AlexPalhano


Na hora de odiar, ou de matar, ou de morrer, ou simplesmente de pensar, os homens se aglomeram. As unanimidades decidem por nós, sonham por nós, berram por nós” (Nelson Rodrigues)

Vou lançar agora uns parágrafos... Nem precisa lê um depois do outro: cada um é por si. E a revelação independe da ordem. Aqui a desordem faz sentido. Então, é como se cada qual (e seu bastante) fosse micro crônica, conversas paralelas. Solidões e pontos. Entenda; se quiser.

E sim: é sobre essa coisa de estarmos conectados o tempo inteiro. Cada vez mais perto e longe de alguém e de todo mundo. Sobre a solidão do Instagram. Sobre os amores móveis. Sobre ser adicionado e aceitar. Estes parágrafos de hoje são para que a desconectopia exista e a gente possa aproveitar mais quem está ao nosso lado, inclusive o ócio, por exemplo.

Eu tenho relações offline. Adoro, por sinal. Sim: enquanto tem gente que vê pessoas mortas, eu vejo pessoas offline. E as tenho por perto. Bem perto.

Primeiro que ninguém mas anota o telefone do outro. Número de telefone (coisa que ninguém mais decora) já é vintage. A pergunta é : “Você tem Facebook?”.  Me adiciona. E curte, vai!”. Em todo caso, é preciso ter um smartphone na mão.  E todo mundo tem. Quantos homens e mulheres estão conectados por uma torre de telefonia móvel agora? Milhões? Ninguém mais cruza a linha. A rede cai, ou está ocupada.  O Facebook acabou com a linha cruzada. Ninguém mais atende uma ligação, desliga e diz pro outro do lado: “Era engano”. Não é necessário fingir que ligou um número errado pra falar com alguém. Não há mais enganos. Eu estou aqui, você aí.  Por que não me liga? Estamos todos “in box”.

A solidão das grandes cidades está em ver. Observar. Como quem assisti ao movimento pelo monitor. Esse balé sincronizado não o inclui.  Você permanece estático, mas vê tudo. E a multidão se move cega. Ninguém cruza olhares. Sem emissão, sem recepção. O espectador que somos, virou uma espécie “moça de quatro-olhos do baile de formatura”.  E ninguém tira ninguém pra dançar.

Quem diria: fumar aproxima as pessoas. Certa vez alguém percebeu a completa falta de sentido do ato ao fumar de luvas. Fumar é tato. Para o fumante não sentir o cigarro, é não fumar. O cigarro só existe entre os dedos. Talvez seja a prova de que quando algo está em suas mãos (você sente, é seu), há uma destemida postura diante de tudo, inclusive a de ignorar que há fumaça em seus pulmões e de que todo mundo vai morrer um dia, fumando ou não. E você queimaria a última chance? Vamos “fumar o último cigarro” juntos? Você tem fogo? Ah, você está online e não podemos arder juntos. 

Não me deixe aqui sozinho. Não sei o que é mais real, a não ser o esquecimento. Me retuita. Me ecoa. Me segue. Nenhum, nem outro, nem coisa nenhuma. Eu te devoro e você não me decifra. E o Twitter poderia se chamar Esfinge. Mas tá mais pra um esfíncter.

O jeito é soluçar naufrágios. Lançar mensagens em garrafas ao mar não é o mesmo que pedir atenção na Linha do Tempo de um Face alheio de amigos? A garrafa chega a um lugar: que pode ser o lugar nenhum, como uma ilha deserta cercada de clichês de solidão por todos os lados. A única ideia de solidão imune ao lugar-comum é o naufrágio, exatamente porque o naufrágio não é um lugar, é um meio.  Afundamos ou boiamos ao meio? Por inteiro, sempre, seja o que for.

Quando você me envia um SMS me dá vontade de responde SOS.

Até outro dia, gentes agradeciam a Deus em notas de dinheiro. Antes, escrevíamos cartões de felicitações e ligávamos pra dar os parabéns. Tudo agora vai por SMS, email, inbox. Até fim de relação desce assim, pelo ralo da internet,  goela abaixo.  Eu, também, gosto de agradecer a Deus. Enviei um email pra Ele, mas voltou assim: daemom_mailer_full_box. Deus não está no Facebook. Aceitei. Aceita!

De certa forma estamos todos dentro de uma “sala” com mais de três bilhões de pessoas, das mais loucas às mais geniais, das sem noção às brilhantes... No começo eu achava legal. Todos acham. E isso já faz um bom tempo... Só que cansa: exposição demais, a vida alheia e um bando de gente como “daquele tipo”, como se estivéssemos numa festa “com gente estranha e esquisita: eu não tô legal”. Estamos todos muito ocupados. Muito mais ocupados. Ultra conectados. E-mails, mensagens de texto e de voz; cutucadas (coisa insuportável), prods e tuites; alertas e comentários; links, tags e posts; fotos e vídeos; sites, blogs e vlogs; buscas, downloads, uploads, arquivos e pastas; feeds e filtros; murais, widgets, clounds; nomes de usuário, senhas e códigos de acesso; pop-ups e banners; rigtones e vibrações; aplicativos e check-in... Ufa! Não é hora de fazer um check-out?!

ALexPalhano - 

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