quarta-feira, 26 de outubro de 2016

A poesia segundo Assis Garrido



A frase que matou o operário 

"Não precisamos mais do seu serviço",
Disseram-lhe os patrões, há dois meses e pouco.
E ele se foi, sob o calor abafadiço
Daquela tarde, murmurando como um louco:
" Não precisamos mais do seu serviço" .

,. Não precisamos mais do seu serviço..."
De tantos anos de trabalho era esse o troco
Que recebia. Em vez de lucro, apenas isso...
E ele consigo murmurava como um louco:
" N fIO precisamos mais do seu serviço..,"

"Não precisamos mais do seu serviço..."
Torou-se bruto e respondia, a praga e a soco,
Aos filhos e à mulher, famintos no cortiço,
E após, chorava murmurando como um louco:
"Não precisamos mais do seu serviço..."

"Não precisamos mais do seu serviço..."
E ele saía a ver emprego, triste e mouco,
Nada! Nenhum!... E cabisbaixo, o olhar mortiço,
Ele voltava murmurando como um louco:
"Não precisamos mais do seu serviço..."

"Não precisamos mais do seu serviço..."
E cada vez sentia mais o cérebro oco.
Enforcou-se.Morreu. "Foi o diabo ou feitiço..."
Ele murmurando, como um louco:
"Não precisamos mais do seu serviço..." 

Assis Garrido foi um poeta, teatrólogo, jornalista, funcionário público (nascido em São Luís do Maranhão), membro da Academia Maranhense de Letras (AML) e do Instituto Cultural Americano-Argentino.

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