terça-feira, 14 de março de 2017

A poesia segundo Luís Augusto Cassas



Poema da Grande Transformação (Arcano 13)

A primeira vez
que a Morte passou pela minha vida,
caíram-me por terra
a coroa do império, o cetro do orgulho,
o castelo da vaidade.
E fui ficando mais leve
do enorme peso da vida.

A segunda vez
que a lâmina da Morte passou pela minha vida,
cortou-me os braços
e todo o apego fugiu-me por entre o dedos.
E fui ficando mais livre
do enorme peso de existir.

A terceira vez
que a lâmina da Morte passou pela minha vida,
cortou-me as pernas
e aprendi a caminhar com os próprios passos.
E fui ficando mais livre
do eterno peso de existir.

A quarta vez
que a lâmina da Morte passou pela minha vida,
rasgou-me o horizonte do coração
e todas as estrelas do futuro
caíram-me aos pés.
E fui ficando mais solto
do pesado fardo de ser.

A enésima vez
que a Morte passou pela minha vida,
já estava podado
de quase todos os excessos do ego.
Separado o espesso do sutil,
reduzido à essência do ser.
E fui ficando mais leve
do aéreo peso da vida.

A última vez
que a Morte passou pela minha vida,
decepou-me o pescoço e a esperança.
Minha cabeça rolou pelos campos de toda memória.
Estava livre de todo o excesso da matéria
e comecei a viver
.


Luís Augusto Cassas é um poeta maranhense.

Sobre Luís Augusto Cassas:

“Como diria Adélia Prado, a poética de Luís Augusto Cassas "funda reinos, inaugura linhagens, e, para além disso, cumpre a sina de, transdrummondianamente, penetrar,surdo-barulhentamente, no reino das palavras e reinventá-las, porque, com Cecília Meireles, decerto o poeta maranhense aprendeu a bonita lição segundo a qual, "a vida só é possível reinventada". Bendita, pois, a reinvenção da vida promovida por Luís Augusto Cassas sob a égide de uma tão caleidoscópica poética”.

José Mário da Silva é professor
de Teoria da Literatura na
Universidade Federal da Paraíba, Campus II.

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