terça-feira, 27 de outubro de 2020

A poesia segundo Gregório de Matos Guerra

 

Triste Bahia

 

Triste Bahia!
ó quão dessemelhante

Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi abundante.

A ti tricou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando e, tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.

 

Inconstância das coisas do mundo

 

Nasce o Sol e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tritezas e alegria.
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz falta a firmesa,
Na formosura não se dê constancia,
E na alegria sinta-se a triteza,
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza.
A firmeza somente na incostância.

Gregório de Matos Guerra, também conhecido como Boca do Inferno ou Boca da Brasa, foi um advogado e poeta baiano. O maior poeta barroco e um grande poeta satírico da literatura!

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