sexta-feira, 12 de agosto de 2022

A poesia segundo Dilú Mello

 

No meu Cariri
Quando a chuva não vem
Não fica lá ninguém
Somente Deus ajuda
Se não vier do céu
Chuva que nos acuda
Macambira morre
Chique-chique seca
Juriti se muda

Se meu Deus der um jeito
De chover todo ano
Se acaba o desengano
O meu viver lá é certo
No meu Cariri
Pode se ver de perto
Quanta boniteza
Pois a natureza
É um paraíso aberto

 

Biografia de Dilu Melo

Maria de Lourdes Argolo (Dilú Mello), nasceu em Viana(MA), no dia 25 de setembro de 1911. Aos cinco anos de idade iniciou seus estudos de violino, ainda na cidade natal, com o maestro Miguel Dias.
Em 1922 mudou-se com a família para o Rio Grande do Sul e já no ano seguinte, aos doze anos, fez um concerto no famoso Teatro Colon de Buenos Aires, acompanhada pelo pianista também precoce, Angelito Martinez. Como prêmio do governo argentino, os dois receberam patrocínio para uma série de apresentações por diversas cidades daquele país. Três anos depois, em 1925, concluiu o curso de violino no Conservatório de Porto Alegre, conquistando uma medalha de ouro pela impressionante técnica adquirida.
Transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1936, aos 25 anos, onde se formou em canto lírico. No Teatro Municipal, participou das montagens das óperas La Bohème, Um Ballo in Maschera e Vida de Jesus, mas, cativada pelas canções dos tropeiros gaúchos, decidiu abandonar sua formação clássica para dedicar-se inteiramente às músicas regionais.
Abraçando a música popular, com o nome artístico de Dilú Mello, não demorou a chamar a atenção do Maestro Martinez Grau que a levou para a Rádio Cruzeiro do Sul, surgindo daí o convite para cantar em São Paulo e gravar o primeiro disco com duas músicas de sua autoria: “Engenho D’água” e “Coco Babaçu.” Influenciada por Antenógenes Silva, comprou um acordeom e passou a apresentar-se na então famosa Rádio Nacional do Rio de Janeiro, conquistando fama em todo o país. Por ser a primeira mulher a apresentar-se, em público, tocando tal instrumento, recebeu da imprensa da época o título de “Rainha do Acordeom”.
Sempre acompanhada do acordeom, Dilú percorreu o Brasil de ponta a ponta. Países como o Uruguai, Argentina, Chile, Paraguai e Peru também se renderam aos seus talentos. Na década de 1950, apresentou-se pelo continente europeu, recebendo veemente elogios da imprensa italiana e portuguesa.
Multi-instrumentista, além do acordeom e do violino, Dilú tocava piano, gaita, harpa paraguaia, violão e viola caipira. Autora de 104 canções, teve suas músicas gravadas por grandes intérpretes, como Ademilde Fonseca, Carmem Costa, Carlos Galhardo, Cantores de Ébano, Dóris Monteiro, Marlene, Nara Leão, Clara Nunes, Marinês e sua gente, Zé Ramalho e tantos outros.
Entre suas composições mais famosas destacam-se: Fiz a cama na varanda, Saudades do Maranhão, Meu Cariri, Qual o valor da sanfona, Redinha de algodão, Conceição da praia, Meu barraco, Telegrama, Maravia, Candelabro, As coisas erradas do mundo, Meia-canha, entre outras.
Apaixonada pelas crianças, Dilú dedicou parte de seus talentos artísticos à infância brasileira, gravando discos com fábulas e historinhas ou escrevendo peças de teatro voltadas exclusivamente para o público infantil. Entre tais peças, encenadas por diversas temporadas nos teatros cariocas, figuram: O baile das tartaruguinhas, O bigurrilho e a princesinha de ouro, Cada criança é uma canção, Uma festa no céu, Festival de palhaços, O sapo dourado (opereta infantil) etc.
Dilú Mello faleceu no Rio de Janeiro, aos 88 anos de idade, no dia 26 de abril de 2000. Seus restos mortais encontram-se sepultados no Cemitério do Catumbi.

por Luiz Alexandre Raposo

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