No meu Cariri
Quando a chuva não vem
Não fica lá ninguém
Somente Deus ajuda
Se não vier do céu
Chuva que nos acuda
Macambira morre
Chique-chique seca
Juriti se muda
Se
meu Deus der um jeito
De chover todo ano
Se acaba o desengano
O meu viver lá é certo
No meu Cariri
Pode se ver de perto
Quanta boniteza
Pois a natureza
É um paraíso aberto
Biografia de Dilu Melo
Maria de Lourdes Argolo (Dilú Mello), nasceu
em Viana(MA), no dia 25 de setembro de 1911. Aos cinco anos de idade iniciou
seus estudos de violino, ainda na cidade natal, com o maestro Miguel Dias.
Em 1922 mudou-se com a família para o Rio Grande do Sul e já no ano seguinte,
aos doze anos, fez um concerto no famoso Teatro Colon de Buenos Aires,
acompanhada pelo pianista também precoce, Angelito Martinez. Como prêmio do
governo argentino, os dois receberam patrocínio para uma série de apresentações
por diversas cidades daquele país. Três anos depois, em 1925, concluiu o curso
de violino no Conservatório de Porto Alegre, conquistando uma medalha de ouro
pela impressionante técnica adquirida.
Transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1936, aos 25 anos, onde se formou em
canto lírico. No Teatro Municipal, participou das montagens das óperas La
Bohème, Um Ballo in Maschera e Vida de Jesus, mas, cativada pelas canções dos
tropeiros gaúchos, decidiu abandonar sua formação clássica para dedicar-se
inteiramente às músicas regionais.
Abraçando a música popular, com o nome artístico de Dilú Mello, não demorou a
chamar a atenção do Maestro Martinez Grau que a levou para a Rádio Cruzeiro do
Sul, surgindo daí o convite para cantar em São Paulo e gravar o primeiro disco
com duas músicas de sua autoria: “Engenho D’água” e “Coco Babaçu.” Influenciada
por Antenógenes Silva, comprou um acordeom e passou a apresentar-se na então
famosa Rádio Nacional do Rio de Janeiro, conquistando fama em todo o país. Por
ser a primeira mulher a apresentar-se, em público, tocando tal instrumento,
recebeu da imprensa da época o título de “Rainha do Acordeom”.
Sempre acompanhada do acordeom, Dilú percorreu o Brasil de ponta a ponta.
Países como o Uruguai, Argentina, Chile, Paraguai e Peru também se renderam aos
seus talentos. Na década de 1950, apresentou-se pelo continente europeu,
recebendo veemente elogios da imprensa italiana e portuguesa.
Multi-instrumentista, além do acordeom e do violino, Dilú tocava piano, gaita,
harpa paraguaia, violão e viola caipira. Autora de 104 canções, teve suas
músicas gravadas por grandes intérpretes, como Ademilde Fonseca, Carmem
Costa, Carlos Galhardo, Cantores de Ébano, Dóris Monteiro,
Marlene, Nara Leão, Clara Nunes, Marinês e sua gente, Zé
Ramalho e tantos outros.
Entre suas composições mais famosas destacam-se: Fiz a cama na varanda,
Saudades do Maranhão, Meu Cariri, Qual o valor da sanfona, Redinha de algodão,
Conceição da praia, Meu barraco, Telegrama, Maravia, Candelabro, As coisas
erradas do mundo, Meia-canha, entre outras.
Apaixonada pelas crianças, Dilú dedicou parte de seus talentos artísticos à
infância brasileira, gravando discos com fábulas e historinhas ou escrevendo
peças de teatro voltadas exclusivamente para o público infantil. Entre tais
peças, encenadas por diversas temporadas nos teatros cariocas, figuram: O baile
das tartaruguinhas, O bigurrilho e a princesinha de ouro, Cada criança é uma
canção, Uma festa no céu, Festival de palhaços, O sapo dourado (opereta
infantil) etc.
Dilú Mello faleceu no Rio de Janeiro, aos 88 anos de idade, no dia 26 de abril
de 2000. Seus restos mortais encontram-se sepultados no Cemitério do Catumbi.
por Luiz Alexandre Raposo
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