terça-feira, 4 de maio de 2010

O homem que ao conhecer liberdade resolveu proclamá-la

No interior do estado do Maranhão, existiu até a década 80, um latifundiário que acreditava piamente que o dinheiro pode tudo. E tinha lá os seus motivos, haja vista, o grande poder que ele exercia sobre uma população formada por miseráveis, pessoas sem nenhum estudo, que para sobreviver e até par a morrer, dependia dele na hora de mandar um doente para ser tratado em São Luís ou contratar um funeral.

Não era a toa que políticos como José Sarney, Alexandre Costa, Eurico Ribeiro, Ivar Saldanha, Henrique de La Roque Almeida e outros políticos menos importantes, a ele recorriam a cada novo pleito eleitoral. Durante as campanhas os políticos ocorriam ao lugar onde morava esse senhor todo poderoso, de nome José Tarquínio, em busca da compra de votos. Lá na sua fazenda sob as sombras das mangueiras, as compras de votos eram realizadas, assim como se compra gado, e após o negócio ser fechado o dinheiro era passado as suas mãos e no dia da eleição a mercadoria era entregue, sem faltar um voto sequer do que fora combinado. Ele era um homem de palavra e exercia um controle muito grande sobre os moradores das suas propriedades.

Mas eis que um santo dia apareceu lá por aquelas banda, um homem com pinta de caboclo, procurando um trabalho, qualquer tipo de trabalho, porque quem anda pelo mundo do senhor meu Deus não pode se dá ao luxo de escolher uma ocupação. E teve sorte, porque o nosso personagem estava necessitando de alguém para tomar conta de uma propriedade, grande produtora de coco babaçu. Um produto naquela época de grande aceitação no mercado.

Aquele homem de aparência inofensiva, de ar bonachão, era maranhense, mas tinha vivido durante muito tempo em São Paulo, onde trabalhou como boa fria e metalúrgico, onde conheceu as idéias socialistas que prega o fim da propriedade e da sociedade de classes. Após viver muito tempo na região sudeste, Gonçalo Martiniano, que era como se chamava esse homem que resolveu voltar à sua terra e como fazia lá São Paulo, resolveu continuar a promover a divulgação das idéias libertadoras, que fazem com que o homem simples e humilde, passe a lutar e a defender os seus direitos de homem livre.

O novo contratado do Cel. José Tarquínio, ao tomar pé da situação dos lavradores e da quebradeiras de coco babaçu, começou logo a agir, primeiro conquistando a confiança daquela gente ao demonstrar ser um trabalhador igual ao outros e estar sempre disponível, não só para ajudar as pessoas como também para ouvir, muito mais do que falar. E na sua conversa inicialmente feita de maneira individual, para depois de algum tempo evoluir para a conversa coletiva, Gonçalo Martiniano foi introduzindo naquelas cabeças de pessoas simples, idéias revolucionárias, que aquela gente simples ia ouvindo sem ter noção do que aquilo de fato representava. Mas ele com muito tato, trabalhava mais com exemplo do que com palavras. Como por exemplo, na hora de abordar a questão do voto que ele para mostrar a sua independência com relação ao coronel disse para o conjunto dos seus amigos trabalhadores, que não permitiu que o Cel. José Tarquínio ficasse com o seu título de eleitor. O que no primeiro momento causou certa estranheza, que ele aproveitou para explicar que o voto é secreto, que o título de eleitor não pode ficar na mão de outra pessoa.

Na primeira eleição após a chegada de Gonçalo Martiniano ao município de Lago da Pedra, o Cel. José Tarquínio não pode mais vender os votos dos caboclos, porque todos eles não permitiram que ele continuasse controlando os seus votos, retendo o título de cada um deles. E na primeira conversa desse proprietário de terras com os trabalhadores rurais, após a chegada de Gonçalo, a conversa se deu de maneira coletiva, com todos os posseiros opinando e questionando.

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