segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Os imigrantes, há um século


Uma mecha de cabelo.
Uma velha chave que havia perdido sua porta.
O nome de alguém bordado no lenço.
O retrato de alguém numa moldura oval.
Um cobertor que tinha sido compartilhado.
E outras coisinhas vinham, embrulhadas em roupas, na bagagem dos desterrados. Não era muito o que cabia em cada mala, mas em cada uma cabia um mundo. Cambaia, desmantelada, atada com barbante ou mal fechada por ferragens enferrujadas, cada mala era como todas, mas igual a nenhuma.
Os homens e mulheres chegados de longe se deixavam levar, como suas malas, de fila em fila, e se amontoavam, como elas, esperando. Vinham de aldeias invisíveis no mapa , e depois de suas longas travessias haviam desembarcado na ilha Ellis. Estavam a um passo da Estátua da Liberdade, que havia chegado, pouco antes que eles, ao porto de Nova York.
Na ilha, funcionava o coador. Os porteiros da terra Prometida interrogavam e classificavam os imigrantes, auscultavam seus corações e pulmões, estudavam suas pálpebras, bocas e dedos os pés, os pesavam e mediam sua pressão, febre, estatura e inteligência.
Os exames de inteligência eram os mais difíceis. Muitos dos recém-chegados não sabiam escrever, ou não atinavam mais que balbuciar palavras incompreensíveis em línguas desconhecidas. Para definir seu coeficiente intelectual, deviam responder, entre outras perguntas, como se varria uma escada: varria-se para cima, para baixo ou para os lados? Uma moça polonesa respondeu:
- Eu não vim até este país para varrer escadas.      

por Eduardo Galeano

Eu particularmente não sou a favor a imigração, por mais que o sistema de governo do país do imigrante, seja opressor, matador do corpo e do intelecto, porque fugindo da opressão e da ameaça de morte física e intelectual, o problema continuará existindo. O importante é resistir e tentar mudar a realidade vigente. Na Síria por exemplo, que está fugindo é a classe média alta que antes de fugir transfere os seus bens para um lugar seguro. Enquanto a classe média foge, os pobres continuam sendo sacrificados por um ditador cruel, bárbaro e desumano. Passado os momentos difíceis, os ricos retornam ao país pacificado. O imigrante pobre está sujeito a todo tipo de humilhação e serviço.

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